O SENTIDO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS PAIS EM MOVIMENTO
Para início de conversa, é importante ressaltar que, na história do movimento de educação inclusiva, pais e mães merecem destaque em função da influência que exerceram na garantia do direito à educação nas escolas do ensino regular de seus filhos e de suas filhas em situação de deficiência. Eles fizeram e fazem história, são “pais em movimento” que se unem a todos aqueles que se empenham para transformar o mundo e para torná-lo aberto às diferenças humanas.
Há muito tempo os pais são importantes ativistas que buscam justiça, visando à cidadania equânime para seus filhos.
Nesse movimento, suas vozes nos alertam para a injustiça social quando não incluímos seus filhos em função do “padrão de normalidade” da sociedade – que tanto nos maltrata e os encerramos em um único atributo: a deficiência, que nos impossibilita de estarmos atentos a tudo o que é próprio de uma pessoa e de suas infinitas possibilidades.
Não é a deficiência que vem primeiro, não é! É preciso transpor o olhar da exigência da normalidade dos padrões das ciências biomédicas para a celebração da diferença humana. É preciso desatar as amarras do preconceito e da discriminação.
Todos os seres humanos têm uma dignidade inerente e, por isso, devem ser sujeitos da justiça, partes integrantes do mundo e de tudo o que ele oferece: educação, saúde, trabalho, lazer, amigos, família, desejos, afetos.
Para os pais, não deve ser fácil enfrentar as barreiras impostas, principalmente as atitudinais, que limitam tanto a vida de seus filhos. No entanto, os pais, sempre em movimento, não medem esforços para que seus filhos se sintam seres humanos pertencentes a esse mundo.
O movimento de pais – os pais em movimento – não foi em vão. Suas vozes encontraram eco e ressoaram em outras vozes: professores, políticos, promotores, gestores públicos, arquitetos, médicos entre muitos outros que perceberam e compreenderam o valor das diferenças humanas e estão convictos de que não há que expulsar nenhum de nós do mundo e, consequentemente, nenhum de nós da escola.
Com a participação dos pais, surgiu o movimento de educação inclusiva que tem como princípio o reconhecimento da diferença humana e não está preso a um padrão da espécie humana.
Diferença é uma condição geral. Quando o sentido da diferença vem da multiplicidade, da ideia de múltiplo, ela não é marcada por um único atributo de um grupo ou de uma pessoa, mas uma oposição aos valores e discursos dominantes e resiste à visão que divide o mundo em categorias isoladas.
O sentido do movimento de educação inclusiva é esse: enfrentar a injustiça de uma matriz cognitiva que institui um padrão paradigmático de ser humano e impossibilita o pleno exercício dos direitos fundamentais das pessoas com deficiência e de todos os seres humanos que fogem a norma.
Pais e mães, sempre em movimento, foram conduzindo outros pais a perceberem que a escola é um espaço de encontros, de formação humana, de exercício dos valores humanos, de exercício do pensamento, da aprendizagem e da interação e tudo isso não pode ser negado aos seus filhos.
O direito à educação, à acessibilidade e à diferença – são os maiores princípios da Educação Inclusiva. Nada substitui o direito a convivência em espaços comuns escolares que possibilita aos estudantes a se verem como seres humanos dignos de valorização e de reconhecimento.
A escola comum é o primeiro espaço público das crianças e onde se concentra de modo intenso e tenso a grandeza das diferenças humanas. A escola tem a ver com a apresentação do mundo – e na apresentação do mundo está contemplada toda a pluralidade existente.
Deste modo, a escola não é uma organização que deve garantir que todos alcancem o mesmo conhecimento e habilidades uma vez que esteja concluído o processo. A igualdade não é ponto de chegada – é ponto de partida. A escola é, por definição, uma escola da igualdade, onde os estudantes são iguais em relação ao direito à educação, ao acesso ao conhecimento, a convivência em espaços comuns.
O movimento de educação inclusiva partiu da iniciativa de pais, de grupos de trabalhos organizados, de estudiosos da área, de movimentos mundiais, envolvendo pessoas com e sem deficiência, caracterizando um movimento híbrido e contínuo de divulgação de fundamentos e princípios e de formulação de políticas públicas que garantem as pessoas com deficiência os benefícios da justiça.
A união de todos os nossos esforços para assegurar os direitos humanos fundamentais como o da educação é a base de qualquer reivindicação que leva em consideração a condição humana e sua dignidade – sem a preocupação com benefícios e vantagens mútuas econômicas ou sociais.
Por isso, queridos pais e mães, o movimento não foi e não é em vão, continuemos nesse movimento de inclusão, nenhum a menos, todos juntos, em uma só voz!
ROSÂNGELA MACHADO
Mestre e doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas/SP.
Professora da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis/SC.
Gerente de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis/SC.