ATENÇÃO À SAÚDE DA PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN

A finalidade deste informativo é destacar a relevância da correta avaliação e acompanhamento das pessoas com Síndrome de Down, nas diversas faixas etárias, buscando prevenir gravidades e promovendo qualidade de vida. Assim sendo, através deste Protocolo, serão fornecidas as orientações às equipes multiprofissionais para o cuidado à saúde integral, promovendo e estimulando a interdisciplinaridade, e, até mesmo, a transdisciplinaridade.

Supervisionar e diagnosticar precocemente intercorrências clínicas são temas significativos na prática de Atenção Primária à Saúde.

O cuidado com a saúde da pessoa com Síndrome de Down é apresentado a seguir, atendendo a cada faixa etária, registrando os riscos maiores de intercorrências clínicas e comprometimentos diversos, conforme a Tabela 1. É fundamental salientar que este Protocolo é um guia geral a ser aplicado em todas as pessoas com a referida Síndrome, de acordo com o Quadro 1, e foi elaborado pelo Ministério da Saúde, evidenciando os cuidados básicos, devendo ser complementado de acordo com as orientações clínicas, fornecidas pela especialidade da Genética Clínica, com o apoio dos profissionais da Pediatria e Clínica Médica. Os protocolos apontam a necessidade da supervisão sistemática e organizada para a correta atenção à saúde da pessoa com Síndrome de Down.        

O acompanhamento do crescimento obedece as curvas específicas para a Síndrome de Down, de zero a 2 anos, de 2 a 8 anos, meninos e meninas, de Mustacchi, Z., assim como, de zero a 3 anos, de 2 a 18 anos, meninos e meninas, de Cronk et al.(Gráficos de Curvas Antropométricas).

As recomendações do Ministério da Saúde, através do Protocolo Clínico, para os adultos e idosos, são semelhantes aos cuidados indicados na adolescência, havendo, entretanto, maior destaque para incentivar o autocuidado e autonomia para as Atividades de Vida Diária e Atividades Instrumentais de Vida Diária, bem como é alertado quanto aos cuidados com a Apneia do Sono.

Tabela 1 – Patologias associadas à SD e sua Prevalência

Sistemas

Patolofia

Prevalência

Visão

Catarata

15%

Pseudo-estenose do ducto lacrimal

85%

Vício de refração

50%

Audição e Sistema Respiratório

Perda auditiva

75%

Otites de repetição

50 – 70%

Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono

57%

Comprometimentos respiratórios

30 – 36%

Sistema Cardiovascular

Comunicação Interatrial

40 – 50%

Comunicação Interventricular

40 – 50%

Defeito do Septo Atrioventricular

40 – 50%

Sistema Digestivo

Atresia de Esôfago

12%

Estenose/ Atresia de Duodeno

12%

Megacólon Aganglionar/ Doença de Hirschsprung

1%

Doença Celíaca

5 – 7%

Colecistopatia Litiásica

3,6%

Trato Urinário

Anomalias

3,2%

Sistema Nervoso

Síndrome de West

1 – 13%

Autismo

1%

Distúrbios do Comportamento

18 – 38%

Sistema Endócrino

Hipotireoidismo

4 – 18%

Sistema Locomotor

Subluxação Cervical sem lesão

14%

Subluxação Cervical com lesão medular

1 – 2%

Luxação de Quadril

6%

Instabilidade das Articulações em algum grau

100%

Sistema Hematológico

Leucemia

1%

Anemia

3%

Síndrome Mieloproliferativa Transitória

10%

Alterações Metabólicas

Diabetes Mellitus

1%

Obesidade

30 – 35%

Alterações Dermatológicas

Xerose

70%

Queratose Pilar, Dermatite Seborreica, Hipercarotenemia, Lentigos Acantose Nigricans, Queilite, Cutis marmorata, Acrocianose, Psoríase, Alopecia Areata, Vitiligo, Foliculite

1.9 – 39.2%

Fonte: Adaptada das Diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de Down / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012¹- ²-3.

Quadro 1 – Acompanhamento por faixa etária
Exames/Avaliaçôes
Vacinações/Orientações
Recém-nato até 1 anoCrianças 1 a 10 anosAdolescesntes
TSHAos 6 meses e 1 anoAnualAnual
Anticorpos
Antitireoidianos
AnualAnual
HemogramaAos 6 meses e 1 anoAnualAnual
Cariótipo+
Glicemia de jejumAnualAnual
Lipidograma e
Triglicerídeos
Acima de 3 anosAnual
Acido úricoAcima de 3 anosAnual
Anti-tranglutaminase
IgA
BianualBianual
IgA séricaBianualBianual
Rx de coluna cervicalAos 3 e 10 anosSe necessário
USG
Abdominal
+++
USG dosQuadris/RX dos Quadris+
RX dos joelhos++
Avaliação Oftamológica6 mesesAnualBianual
Avaliação Otorrinolaringológica6 mesesAnualAnual
EcocardiogramaSIMSIMSIM
Avaliação GinecológicaAnual
VacinaçõesAnti-Pneumocócica
3 doses
Anti-Varicela 1 ano e reforço em 4 anos Anti-hepatite A
Posicionamento do pescoço+++
EstimulaçãoEstimulação globalAtividade físicaAtividade física
AlimentaçãoEstimulo ao alimento maternoAlimentação saudávelAlimentação saudável, cuidado com obesidade
Contato com outros paisSIMSIMSIM
Apoio da comunidadeSocializaçãoSocialização
Hábitos de vidaSaudáveisSaudáveisSaudáveis
EscolaridadeEscolaridadeEstimular autocuidado e autonomia para as AVD e AVID
Risco de exploração sexualAlterarAlterar
Observar comportamentoMudança de comportamento(Autismo)Comportamento social adequado
Risco de lesão cervicalRisco de lesão cervical no lazerRisco de lesão cervical pelo uso de computador e esporte
SonoCuidado com Apneia do sono
Orientação sexualPrevenção de gravidez

Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de Down / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas 1-2.

* O cariótipo deve ser solicitado durante o primeiro ano de vida ou em qualquer momento se não tiver sido realizado ainda.


Conclusões

 O protocolo relatado é um grande recurso para as equipes multiprofissionais, de caráter, idealmente, transdisciplinares, o qual orienta os diagnósticos clínicos associados e condutas, proporcionando assim o cuidado integral com a saúde da pessoa com Síndrome de Down, em toda sua dimensão biopsicosociocultural.


Referências

1.Mustacchi Z, Rozone G. Síndrome de Down – aspectos clínicos e odontológicos. São Paulo: CID Editora,1990.

2.Ministério da Saúde / Secretaria de Atenção à Saúde / Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Diretrizes de Atenção à Pessoa com Síndrome de Down – F. Comunicação e Educação em Saúde; Brasília – DF; 2012.


FRANCISCA LÍGIA CIRILO CARVALHO, GISELE ROZONE DE LUCA E LOUISE LAPAGESSE DE CAMARGO PINTO

Médicas da Equipe do Hospital Infantil Joana de Gusmão.